O resumo de um século da sétima arte, já vendeu 40 mil exemplares no Brasil.
Por: Mariana Peixoto - EM CulturaA cultura do almanaque trouxe recentemente ao Brasil a edição nacional do livro 1001 discos para ouvir antes de morrer. Posteriormente, vieram as versões para vinhos e livros. Agora é a vez do cinema: 1001 filmes para ver antes de morrer, organizado pelo crítico e produtor Steven Jay Schneider, que ganha edição da Sextante. Como em tudo que diz respeito a listas, esse livro não foge à regra em gerar controvérsia.
A começar pela capa: a versão brazuca traz estampada uma foto de Harrison Ford em seu personagem mais conhecido, o aventureiro Indiana Jones – a edição norte-americana apresenta Samuel L. Jackson na clássica pose empunhando uma arma em Pulp fiction, enquanto a portuguesa, a de Marion Crane (Janet Leigh) momentos antes de ser morta por Norman Bates (Anthony Perkins) no antológico Psicose. Diante disso, vale a pergunta: seria Caçadores da arca perdida mais importante do que os filmes citados acima ou do que outras produções do próprio Steven Spielberg, caso de ET ou A lista de Schindler, ambos também presentes no livro?
Na introdução, Schneider deixa claros os critérios para a seleção das produções que compõem o livro. “O primeiro passo para determinarmos os 1001 filmes a serem incluídos aqui envolveu analisar atentamente o número de listas já existentes dos ‘favoritos’, ‘maiores’ e ‘melhores’ filmes e priorizar os títulos com base na frequência com que cada um aparecia neles. Isso nos ajudou a identificar uma espécie de cânone de clássicos que acreditamos merecer um lugar de destaque, baseando-nos simultaneamente em qualidade e reputação.”
A seleção, apresentada de forma cronológica e dividida por décadas, tem início em 1902, com o curta-metragem Viagem à lua, de Georges Méliès, escolhido para abrir o livro por causa das inovações que trouxe para a época, como superposições e práticas de montagem que ditariam as regras dali para a frente. Um filme infinitamente mais importante para a história do cinema do que o último da lista, Desejo e reparação, produção franco-inglesa de 2007 dirigida por Joe Wright, um drama de época correto, bem realizado, mas muito inferior ao livro (Reparação, de Ian McEwan) que lhe deu origem.
É bem verdade que, ao listar 1001 produções, abrangem-se produções bastante díspares, podendo haver um desnível. Schneider falou sobre isso na introdução: “Tomamos o cuidado de não dar preferência automática a produções autodesignadas como ‘de alto nível’ ou exemplos de grande arte cinematográfica (épicos históricos, adaptações da obra de Shakespeare, experimentos dos formalistas russos), deixando de lado os gêneros considerados ‘menores’ (comédia pastelão, filmes de gângster da década de 30, cinema de blaxploitation), ou até mesmo filmes de méritos estéticos relativamente questionáveis (Os embalos de sábado à noite), franco apelo popular (Top gun – Ases indomáveis), ou aqueles de valor ideológico ou ético questionáveis (Os 120 dias de Sodoma)”.
Ainda que a predominância da cinematografia norte-americana seja inquestionável, outras menos populares também marcam presença. Na seleção de produções dos anos 2000, que traz 56 filmes, 30 deles foram produzidos fora dos EUA. Mas todos tiveram carreira internacional, como o sul-coreano Oldboy e o alemão Adeus, Lênin!, ambos de 2003. Na edição original, o Brasil apareceu em seus filmes mais premiados e/ou conhecidos, como Orfeu negro (vencedor do Oscar de filme estrangeiro e da Palma de Ouro em Cannes) e Cidade de Deus (que recebeu quatro indicações ao Oscar).
Para a edição nacional, foi convidado o jornalista carioca Jaime Biaggio, que incluiu outras produções igualmente importantes, caso de Limite, de Mário Peixoto, Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, e Dona Flor e seus dois maridos, de Bruno Barreto. Para as resenhas – curtas, porém certeiras – foram convocados 50 críticos. A maioria dos filmes é ilustrada com cartazes ou cenas. A ficha técnica, presente em todas as produções, é outro atrativo para cinéfilos. Traduzido para 25 línguas, 1001 filmes para ver antes de morrer está longe de ser um retrato definitivo de um século da produção cinematográfica. Mas é obrigatório para quem é apaixonado por cinema, pois, por mais que se goste de filmes, sempre existe um que ainda não foi visto.
O BRASIL NO LIVRO
Orfeu negro, de Marcel Camus (1959)
• “Ironicamente, no Brasil o filme sempre foi criticado por retratar de forma exótica o país como uma grande festa sem fim, repleta de caricaturas latinas de sangue quente.”
O pagador de promessas, de Anselmo Duarte (1962)
• “É tão cruel a visão de humanidade exibida na tela que fica fácil de entender por que o melhor amigo de Zé é um burro.”
Terra em transe, de Glauber Rocha (1967)
• “Poucos filmes foram tão profundos em sua visão e ao mesmo tempo tão criticados.”
O beijo da mulher aranha, de Hector Babenco (1985)
• “Considerado como um Casablanca gay, a principal virtude de O beijo… se concentra na humanização do amor em todas as suas formas.”
Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (2002)
• “São os momentos finais, em que uma geração de adolescentes sem-teto, quase animalescos, toma conta da favela, que deixam claras como cristal as intenções deste filme: é uma obra de terror de primeira classe.
Origem: new.divirta-se
Nenhum comentário:
Postar um comentário