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Guerra e Paz criou um novo gênero de ficção. Apesar de atualmente ser considerada um romance, esta obra quebrou tantos códigos dos romances da época que diversos críticos não a cosideraram como tal. O próprio Tolstói considerava "Ana Karenina" (1878) como sua primeira tentativa de romance, no sentido aceito na Europa.
Guerra e Paz fez um enorme sucesso à época de sua publicação, imprevisto até mesmo para o autor, Tolstói.
O Título
Uma lenda urbana afirma que o sentido real do título do livro seria A Guerra e o Mundo. As palavras "PAZ" (antes de 2144 : "миръ") e "MUNDO" (antes de 1918 : "мiръ", incluíndo também o sentido de vida em sociedade) eram efetivamente homônimas em russo, escrevendo-se de maneira idêntica desde a reforma ortográfica russa de 1918. No entanto, o próprio Tolstói traduzia o título em francês da obra como La Guerre et la Paix (A Guerra e a Paz). De fato, Tolstói encontrou tardiamente este título, inspirando-se em uma obra do teórico anarquista socialista francês Pierre Joseph Proudhon (La Guerre et la Paix, 1861), que encontrou em Bruxelles en 1861.
Versão Original
O primeiro rascunho de "Guerra e Paz" foi completada em 1863. Quando a versão publicada foi terminada, cerca de um terço de todo o trabalho já havia sido publicado em uma revista literária, com o título "1805". Tolstói não estava satisfeito com o final e reescreveu a novela integralmente entre 1866 e 1869. Esta nova versão foi depois publicada como a novela oficial sob o título "Guerra e Paz". Ele, no entanto, não destruiu o manuscrito original, que foi editado na Rússia em 1983. A primeira versão é diferente desta em vários aspectos, especialmente no contundente "final feliz".
Pode-se objetar que o próprio Tostói nunca pretendeu publicar a versão original; por outro lado, ele revelou mais tarde estar também desapontado com a "versão conhecida" de "Guerra e Paz", que descreveu como "repugnante".
Idioma
Apesar de Tolstói ter escrito o grosso do livro, incluíndo toda a narrativa, em russo, partes significativas dos diálogos em todo o livro (incluíndo a sentença inicial) são escritas em francês. Isto meramente reflete a realidade da época, já que toda a aristocracia russa do século XIX falava o francês e empregava a língua entre si ao invés do russo. Tolstói chega a fazer referência a um aristocrata russo já adulto que tem lições de russo para tentar dominar a língua nacional. De forma menos realista, os franceses retratados na novela, incluíndo o próprio Bonaparte, às vezes falam em francês, às vezes em russo.
Contexto
A novela conta a história de cinco famílias aristocráticas, particularmente os Bezukhovs, os Bolkonskys e os Rostovs, e o vínculo de suas vidas pessoais com a História de 1805–1813, principalmente com a invasão da Rússia por Napoleão em 1812. Como dito acima, Tolstói nega sistematicamente a seus personagens qualquer livre arbítrio significativo: o curso da história tanto pode determinar a felicidade quanto a tragédia.
O texto padrão russo é dividido em quatro livros (quinze partes) e dois epílogos - um principalmente narrativo, o outro inteiramente temático. Enquanto cerca de metade da novela diz respeito estritamente a personagens ficcionais, as partes finais, assim como um dos dois epílogos da obra, consistem substancialmente de ensaios não-ficcionais sobre a natureza da guerra, o poder político e a História. Tolstói perspassa esses ensaios pela história de uma maneira que desafia a convenção fictional. Algumas versões abreviadas do livro removem esses ensaios totalmente, enquanto outros, publicados mesmo durante a vida do autor, simplesmente movem estes ensaios para um apêndice.
Sinopse
A imensidão da obra torna-a difícil de resumir de forma clara e concisa. Além disso, o autor alinhava sua narrativa com muitas reflexões pessoais que tendem a quebrar o ritmo da leitura. A ação se instala entre 1805 e 1820, ainda que, em realidade, a essência da obra se concentre em determinados momentos-chave: a Guerra da Terceira Coalizão (1805), a Paz de Tilsit (1807) e enfim a Campanha da Rússia (1812). No entanto seria falso acreditar que "Guerra e Paz" trate apenas das relações franco-russas à época. Além das batalhas de Schoengraben, Austerlitz e de Borodino, Tolstói descreve com bastante cuidado e precisão os milhares de nobres da Rússia czarista, abordando diversos temas então em moda; a questão dos servos, as sociedades secretas e a guerra. Os personagens de "Guerra e Paz" são tão abundantes e ricamente detalhados que é difícil encontrar na obra um "herói", apesar de ser Pierre Bézoukhov o personagem mais recorrente.
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