Biografia de Edmond Rostand

Foi um dos membros da Academia Francesa de Letras, seguidor dos ideais românticos.

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Edmond Eugène Alexis Rostand (Marselha, 1 de abril de 1868 — Paris, 2 de dezembro de 1918) foi um poeta e dramaturgo francês.

Biografia

A França da segunda metade do século XIX vive o Segundo Império, sob o governo de Luís Napoleão, que restabelece em seu benefício o título imperial hereditário e adota o nome de Napoleão II. Desenvolve-se o mercado financeiro, e a influência da França se faz sentir no exterior. O país está entrando na civilização industrial da idade da máquina. Na política internacional, a França vive um período de instabilidade. Um clima de pré-conflito ronda a região, abatendo-se sobre a Prússia, a Alemanha e a própria França, países que estão empenhados em ampliar suas fronteiras. A guerra Franco-prussiana começa a se desenhar.

É nesse período, em 1868, que nasce em Marselha Edmond Rostand, de uma família provençal culta e rica. Seu pai, Eugène Rostand, é economista, tradutor e poeta, membro da academia de Marselha. Na literatura, os ideais românticos da arte aos poucos vão cedendo lugar ao princípio realista de que é necessário mostrar a vida como ela é, insistindo mais na denúncia de seu lado mau do que na exaltação de seu lado bom. O naturalismo - que procura incorporar ao gênero o estudo do comportamento patológico e das classes socialmente desfavorecidas - está em voga, banindo da literatura a antiga tradição de tratar de episódios medievais, louvar o patriotismo e exaltar a fé cristã.

Rostand é uma criança solitária e silenciosa, obcecada por literartura, em particular pelo teatro. Em 1880, aos doze anos, segue para Paris a fim de complementar os estudos. Nessa época escreve seus primeiros poemas. Dedica-se a literatura, história e filosofia e, muito jovem, forma-se em direito na Universidade de Paris, mas nunca exerceria a profissão. Desde os primeiros meses na faculdade já freqüentava assidualmente os meios intelectuais e artísticos, decidido a brilhar no mundo das letras, que sobre ele exerce um irresistível fascínio. Nas rodas literárias, além de um grande estímulo para seguir a vocação, Rostand conhece a mulher com quem viria a se casar. Aos vinte anos, em 1888, escreve sua primeira peça, A Lua Vermelha, que obtém algum sucesso, e em 1890 lança um livro de poemas, Divagações. Nesse mesmo ano casa-se com a poetisa Rosemonde Etiennette Gérard, premiada pela Academia Francesa por seu livro de veros, As Flautas. No ano seguinte nasecu seu primeiro filho, Maurice.

Em 1893 tenta novamente conquistar o público com a peça teatral Os Dois Pierrôs. Sem conseguir o mesmo êxito de A Lua Vermelha, só lhe resta esperar até o ano seguinte pra realizar seu sonho. Em 1894 nasce Jean, seu segundo filho. Nesse mesmo ano Edmond Rostand faz as pazes com o sucesso, quando Os Românticos, peça baseada em Romeu e Julieta, de Shakespeare, é encenada pela Comédie Française. Finalmente está aberto o caminho da fama para Rostand.

Embora os ideais românticos já estejam ultrapassados, Edmond Ronstand inspira-se nos temas do Romantismo para escrever suas peças, sem deixar de lado o novo enquadramento psicológico da época. Essa habilidade, aliada a um genuíno talento poético e inteligente manejo dos vocábulos, garante o êxito de sua carreira de dramaturgo. Em 1895 escreve A Princesa Longínqua, história de amor entre um trovador e uma princesa da Idade Média.

Em 1897, aos 29 anos, escreve A Samaritana, peça de cunho religioso, tema de forte inspiração para os românticos. Os críticos não aprovam a peça, pois entendem que Jesus é apresentado de um modo vulgar. Mas a obra que imortalizaria Edmond Rostand como dramaturgo e ídolo do público francês, ainda em 1897, seria a história do herói romântico que se tornaria um verdadeiro símbolo popular: Cyrano de Bergerac.

A obra é baseada na história real de um soldado que se destacara não tanto pelo bravura, pela habilidade de espadachim ou pelo talento de escritor, mas sim pela agudeza de espírito, por sua língua ferina e também por seu nariz extraordinariamente grande. Hercule Savinien de Cyrano de Bergerac viveu na França no início do século XVII. A inspiração para escrever a respeito da vida de Cyrano surge quando Rostand passa férias de verão na pequena cidade de Luchon. O escritor fica conhecendo um jovem que lhe fala de seu amor não correspondido e que lhe pede conselhos para conquistar a amada indiferente, uma vez que não possui o dom da retórica. Rostand passa a ensinar diariamente ao rapaz os rudimentos da arte de dizer reflexões frases espirituosas, citações eruditas. Quando a moça finalmente se declara apaixonada e confessa ao próprio Rostand sua surpresa em saber que o rapaz é tão sábio, romântico e galanteador, o escritor imediatamente relaciona a situação com a infeliz história sentimental de Cyrano de Bergerac, que, incapaz de conquistar para sí próprio o afeto de Roxana, a mulher amada, conquista-o utilizando palavras apaixonadas em nome de outro, seu jovem amigo Cristiano.

Assim brota na mente de Rostand o embrião da peça que o tornaria célebre. Enquanto elabora mentalmente o esboço da obra, começa a procurar o intérprete ideal para o papel, que exige não só um ator talentoso mas também dotado de certas características físicas. Quando Sarah Bernhardt, considerada a maior atriz da época e que já interpretara no palco personagens de Rostand em duas peças, lhe apresenta Constant Coquelin, ator de sua companhia de teatro, o entusiasmo é recíproco. Autor e ator entendem-se de imediato, e Rostand lança-se ao trabalho com redobrado vigor.

A obra, seguindo a tradição romântica, é escrita em versos. Rostand trabalha febrilmente, e chega a compor em uma só tarde 250 versos. A estréia, entretanto, em 27 de dezembro de 1897, no Théâtre de La Porte Saint-Martin, em Paris, é marcada por uma atmosfera de inquietação e nervosismo por parte dos atores. O clima é de pessimismo, e o público, hostil e apreensivo, aposta no fracasso: a época das peças escritas em versos já passara, e a história amorosa do galante mosqueteiro não parece um tema dos mais empolgantes. Mas os personagens crescem e dominam os intérpretes, isolando-os do público, despojando-os de sua própria pessoa, integrando-os num mundo maior, onde a ficção magicamente supera e enrique a realidade. Constant Coquelin como que incorpora a alma do personagem, de tal forma que, durante muitos anos, o papel nos palcos franceses seria exclusivamente seu. É impossível imaginar outro intérprete para Cyrano de Bergerac. Coquelin tem 56 anos quando o interpreta pela primeira vez. O herói, na realidade, deveria ter vinte anos menos; todavia, essa diferença de idade acaba alterando a própria criação de Rostand.

A condição do homem de meia-idade, apaixonado por uma mulher muito mais jovem, assume uma conotação paternal. A grandiosidade da obra acaba preponderando sobre o pessimismo e a tensão. A nobreza de sentimentos do personagem, sua coragem, ousadia e sensibilidade encarnam o próprio ideal do povo francês, e a peça revela-se um estrondosso sucesso. O público, em pé, aplaude e exige a presença do autor: graças a ele Cyrano está imortalizado como uma figura quase lendária. Dez dias depois da estréia, o presidente da República francesa, Félix Faure, comparece ao teatro e, no intervalo da peça, entrega pessoalmente a Coquelin a Legião de Honra, a mais alta comendada desde 1802, criada por Napoleão Bonaparte.

Para o teatro, Rostand escreve ainda, em 1900, O Filhote de Águia. De inspiração histórica - mais uma vez cumprindo o ideal romântico dde glorificar os valores pátrios -, a peça conta a epopéia do duque de Reichstadt, que deseja ressuscitar o império de seu pai Napoleão, mas não se sente com forças para tão grande empreitada. Mais uma vez, nessa obra, Sarah Bernhardt mostra sua personalidade e seu talento. Apesar da rejeição dos críticos, por ter a obra sido inspirada nos ultrapassados modelos românticos, ela é aplaudida com entusiasmo pelo público, por seu tema interessante e envolvente.

Em março de 1901, aos 33 anos, Edmond Rostand é eleito membro da Academia Francesa. Mas sua saúde, já debilitada, não lhe permite desfrutar por mais tempo a glória duramente conquistada. Enfraquecido e cansado, parte para a casa de campo da família em Cambo, na região basca, onde passa quase nove anos em silêncio. Em 1910 volta aos palcos parisienses com Chantecler, história do mundo animal baseada nas fábulas de La Fontaine. Depois dessa peça, considerada pela crítica como o epílogo infeliz de uma carreira notável por uma única obra, Rostand escreve ainda A Última Noite de Dom João, publicada postumamente, em 1921.

Em 1914 tem início a Primeira Guerra Mundial, e Rostand procura se alistar no exército francês. Recusado, em virtude de sua saúde cada vez mais fraca, Rostand retira-se definitivamente para o campo. De sensibilidade vibrante, vivíssima imaginação e inesgotável riqueza de expressão, Rostand começa a perder aos poucos suas melhores qualidades por um excesso de virtuosismo. Passa o resto da vida torturado por sonhos de glória inatingíveis.

Em 2 de dezembro de 1918, quando a França comemora a vitória na Primeira Guerra, Edmond Rostand morre em Paris, aos cinqüenta anos, em conseqüência de uma pneumonia. Sua imortal criação, Cyrano de Bergerac, contudo, continua percorrendo o mundo, empolgando platéias e fazendo a glória de muitos atores, tanto nos palcos quanto nas telas de cinema.

Cronologia

1868 - Nasce em Marselha, em 1° de abril, Edmond Rostand.

1880-1890 - Nesse período completa os estudos em Paris e forma-se em direito. Escreve os primeiros poemas.

1888 - Escreve sua primeira peça, A Luva Vermelha.

1890 - Publica seu primeiro livro de poesias, Divagações.

1891 - Nasce seu primeiro filho, Maurice.

1893 - Escreve Os Dois Pierrôs.

1894 - Nasce o segundo filho, Jean. Escreve Os Românticos.

1895 - Escreve A Princesa Longínqua.

1897 - Escreve A Samaritana.

1900 - Escreve O Filhote de Águia.

1901 - É eleito membro da Academia Francesa.

1910 - Escreve Chantecler.

1914 - Rejeitado pelo Exército francês, retira-se para o campo.

1918 - Em 2 de dezembro, aos cinqüenta anos, Rostand morre de pneumonia.

1921 - É publicada, postumamente, A Última Noite de Dom João.

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