O Monge e o Executivo – James Hunter

Não apenas se manteve como um campeão de vendas, tornou-se um dos maiores fenô­menos editoriais de todos os tempos no país. Está na lista de Época dos dez livros mais vendidos na área de auto­ajuda.

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Leonard Hoffman, um famoso empresário que abandonou sua brilhante carreira para se tornar monge em um mosteiro beneditino, é o personagem central desta envolvente história criada por James C. Hunter para ensinar de forma clara e agradável os princípios fundamentais dos verdadeiros líderes.

O Monge e o Executivo
As lições da espiritualidade para o mundo do trabalho


Por João Luís de Almeida Machado
Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador

Desiludida e cansada a professora foi aos poucos desistindo de opinar e sugerir idéias na escola em que trabalha. Acomodou-se a rotina do dia a dia e resolveu agir da forma como tantos outros profissionais da área, passou simplesmente a dar suas aulas e esperar o tempo passar para que pudesse se aposentar. Inclemente como realmente é, o relógio não parou de dar suas voltas e os cabelos brancos e as rugas foram surgindo no rosto daquela mulher. Algumas boas histórias e lembranças ficaram da época em que foi professora e ia diariamente encontrar seus alunos, mas o que realmente ela legou a educação? O que ficou para cada um de seus alunos além dos conteúdos que ensinava?

O que levou a professora a adotar essa postura defensiva e retraída quanto à proposição de novas idéias e opiniões? Se pudéssemos perguntar a ela teríamos com certeza uma resposta muito clara quanto a isso: faltou estímulo por parte da direção, houve resistências às mudanças pelo corpo docente e, principalmente, as pessoas não pareciam dispostas a escutá-la.

Se pensarmos nisso teremos um breve resumo dos tópicos abordados no livro “O Monge e o Executivo”. O próprio título do livro nos desafia a uma breve reflexão. Há um evidente contraponto entre os personagens centrais. Temos por um lado o executivo e toda a sua necessidade de respostas certas e praticamente imediatas para que seus negócios sejam bem-sucedidos. Pensam muitos desses profissionais que é necessário passar para as outras pessoas toda a autoridade do cargo a partir de atitudes (muitas vezes arrogantes e autoritárias) e ações (que depreendam inteligência e velocidade de raciocínio).

Executivos têm que se vestir dentro de uma elegância sóbria porém ostentatória. Ternos bem cortados, de grifes conhecidas, gravatas importadas, sapatos de couro engraxados com esmero devem ser acompanhados por anéis, correntes, relógios, agendas eletrônicas, computadores de bolso e celulares de última geração.

Os monges, por sua vez, vivem de forma espartana e simples. Acordam cedo para meditar, rezar e refletir. Estão sempre em contato com a natureza e se dispõem a auxiliar nos trabalhos mais simples. Não vivem dentro de uma lógica materialista e, tampouco se sentem compelidos a rapidez que os tempos modernos parecem exigir de todos.

Tem como prática regular os estudos e o pensamento aprofundado e reflexivo. Acreditam que devem se dispor a ajudar sempre que possível os outros e, em muitos casos, disponibilizam tempo e recursos para que essas ações se concretizem. Pensam que para auxiliar é preciso antes de tudo conhecer e, para que tal intento se realize, aprenderam a ouvir atentamente o que os outros tem a lhes dizer.

Talvez “servir” seja a palavra-chave para melhor compreender as diferenças entre o monge e o executivo. Para os religiosos as relações humanas e o sucesso de seus empreendimentos em qualquer área passam necessariamente por uma atitude relacionada ao servir aplicada a todas as pessoas envolvidas numa comunidade ou trabalho.

Os gerentes e administradores em geral pensam que cabe aos outros o servir e a si mesmos a responsabilidade de comandar, liderar. Por esse motivo acabam, muitas vezes, se fechando as opiniões e idéias que vem de seus funcionários ou colaboradores por imaginarem que eles não têm preparo ou conhecimento para oferecer boas sugestões e projetos.

Fica um pouco mais fácil perceber então um dos motivos que levaram a professora a desanimar quanto à proposição de novas idéias, não fica? Há muitas escolas onde a direção se fecha tanto ao advento de projetos e planos que possam alterar o cotidiano que se repete, com certeza, o problema que se verifica em indústrias, prestadores de serviços, estabelecimentos comerciais ou empresas públicas.

Mas, não é sempre necessária uma liderança para empreender? A resposta para essa pergunta é muito evidente, claro que sim. Isso não quer dizer, no entanto, que essa liderança tenha que ser prepotente, arrogante e nem um pouco democrática. Os verdadeiros líderes não são aqueles que impõem uma idéia ou proposta, mas sim os que convencem os demais e os motivam a participar com vontade, disposição e garra desse empreendimento ao deixarem claro que o objetivo final desse trabalho é o bem comum.

Em “O Monge e o Executivo” aprendemos que esse conceito é tão antigo quanto à própria humanidade e que, efetivamente, suas definições se tornaram mais claras a partir da ação de Jesus Cristo. Seus pronunciamentos em favor do “amor ao próximo” são bem explicados no livro e superam o conhecimento de senso comum que se aplica a tão importante e fundamental princípio.

Exemplos como o de Martin Luther King e Mahatma Gandhi também são lembrados para demonstrar que, historicamente, grandes sucessos foram atingidos a partir de lideranças maduras, conscientes, sensíveis e que se prestavam a trabalhar em conjunto, ouvindo os demais participantes e servindo as causas e aos envolvidos.

O que foi conseguido na política ou na luta pelos direitos civis em âmbito nacional ou global também pode resultar em conquistas numa esfera local ou institucional. Para que isso aconteça é necessário que se superem paradigmas ou estigmas (como gostaria de caracterizá-los). Novas práticas e idéias confrontam hábitos há muito estabelecidos e, nesse caso, é importantíssimo que os empreendedores tenham muita disposição e coragem, pois os obstáculos com certeza surgirão.

Na maior parte dos casos as mudanças representam verdadeiras viradas de mesa e, por isso mesmo, causam reações de desconfiança e incerteza, principalmente entre aqueles que são mais devotados às antigas idéias e práticas.

A disposição para as mudanças passa, então, necessariamente, pela capacidade dos líderes demonstrarem com paixão e sentimento toda o seu interesse pelo projeto. A palavra mais correta para esclarecer essa relação apresentada no livro é amor. Amplia-se o termo, no entanto, para uma compreensão do mesmo não apenas como sentimento, mas sim como elemento de prática e ação.

Amar o projeto e aos participantes significa ser tolerante e coerente, ter capacidade de ouvir e de se dirigir aos outros de forma firme porém respeitosa e, principalmente, pensar e agir sem precipitações e com planejamentos bem definidos.

Há muitas outras lições nas páginas de “O Monge e o Executivo” que se aplicam à vida e ao trabalho de educadores e demais profissionais. É, inclusive, valioso para que ainda está estudando e busca uma formação que lhe possibilite uma boa colocação no mercado. Em uma de suas passagens, o autor James C. Hunter destaca o espírito do livro a partir de um ditado de índios americanos que ajudaria, com certeza, a professora do início do texto a entender um pouco da relação que devemos ter com o mundo no qual vivemos: “Quando você nasceu, você chorou e o mundo se regozijou. Viva sua vida de tal maneira que, quando você morrer, o mundo chore e você se regozije”.

Origem: planetaeducacao

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Entrevista com James Hunter

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