A arte de perguntar

Rita Foelker


Uma pergunta pode ser um excelente ponto de partida para uma investigação
filosófica.

Mas, não, qualquer pergunta!

O professor, muitas vezes, inicia sua aula fazendo perguntas que visam apenas
conferir conteúdos assimilados. Elas possuem apenas uma resposta certa. Não é
deste tipo de pergunta que estamos falando.

Falamos de perguntas que fazem raciocinar, que motivam o diálogo e que podem ter
muitas respostas certas.


Perguntas abertas e perguntas fechadas

Existem dois tipos de perguntas: as perguntas abertas e as perguntas fechadas.

As perguntas fechadas são as que só tem uma resposta, são usadas para avaliar
conhecimentos ou pedir informação.
Ex.: Quem descobriu o Brasil? Que dia é hoje?

As perguntas abertas são as que possuem muitas respostas corretas e estimulam a
pensar. Ex.: Por que somos mais amigos de algumas pessoas que de outras? Por que
há pessoas que não acreditam em Deus? Se as pessoas fossem menos apressadas,
elas viveriam melhor?

Seu objetivo não é uma resposta em si, mas a possibilidade que ela abre para a
curiosidade, para as novas idéias, para a reestruturação do pensamento e para as
trocas de opinião.

Enquanto as respostas para as perguntas abertas vão sendo encontradas, o assunto
ganha novas perspectivas e cada aluno evolui em sua compreensão. O pensamento se
organiza e há oportunidade de se expor novas questões.

Segundo Splitter e Sharp (1): Nossas experiências em sala de aula e em educação
de professores nos ensinam que dentre as muitas habilidades requeridas para
construir e sustentar uma comunidade de investigação, aquelas associadas com
formular, fazer e responder perguntas têm um lugar especial. Na verdade, a
reconstrução da sala de aula como uma comunidade de investigação dialógica
depende muito da natureza e da qualidade das perguntas levantadas por
professores e alunos.


Ambiente encorajador

O resultado de uma atividade investigativa depende, não somente, de fazer as
perguntas certas, mas, no caso da sala de aula, da disposição do professor em
aceitar a validade das diversas opiniões e de agir também como investigador.

A criação de um ambiente que encoraje o questionamento, que respeite os diversos
pontos de vista, mesmo os da minoria, favorece a naturalidade e espontaneidade
das trocas e estimula a pesquisa sobre os assuntos tratados, na medida em que
todos sentem que podem contribuir para a formação de um entendimento mais sólido
e profundo.

Alguns exemplos

O que dissemos tem a ver com as perguntas iniciais, que propõem um assunto para
ser investigado.

Outras perguntas, feitas pelo coordenador durante o diálogo, podem exercer este
mesmo efeito. Exemplos:

Por que você pensa assim?
Poderia explicar melhor?
Pode nos dar um exemplo?
Você quer dizer que... ?
Alguém tem uma pergunta para... ?
Você concorda com o argumento de... ?
Você pode olhar este assunto por outro ponto de vista?
Isto que você propõe lhe parece correto? Por quê?
Que conseqüências poderiam surgir deste pensamento?
Que conseqüências poderiam surgir desta atitude?
Por que sua pergunta é importante?
Como o que você disse vai nos ajudar?

http://www.edicoesgil.com.br/educador/filosofia/filosofia_principal.html
...
Nota
1. Splitter, Laurance J. e Sharp, Ann Margaret. Uma nova educação: a comunidade
de investigação na sala de aula. Ed. Nova Alexandria , São Paulo, 1999.

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